sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Bento - Homem de borracha


Nome completo
Manuel Galrinho Bento
Data de nasc.
Local de nasc.
Falecido em
1 de março de 2007 (58 anos)
Local da morte
Altura
1,74 cm
Apelido
Homem de borracha


        
         Palmarés:

     -8 campeonatos
     -6 taças de Portugal
     -2 supertaças
     -6 taças de honra da AFL
     -1 Taça Ibérica





Jogou 20 épocas no Benfica, entre 72/73 e 91/92. Fez 611 jogos, sofrendo 447 golos. Estreou-se pela mão de Jimmy Hagan, a 01/09/72, em Jacarta, num jogo de carácter particular, frente à selecção da Indonésia.

Foi titular indiscutível da baliza "encarnada" durante 11 épocas, entre 75/76 e 85/86. De todos os guarda-redes que já passaram pelo Benfica, Bento é o que detém as melhores performances, com destaque para a série de 11 jogos consecutivos sem sofrer golos, de 10/11/85 a 05/01/86, totalizando 1065 minutos sem encaixar um único golo.

Arrojado, dotado de excelentes reflexos e possuindo um excelente sentido posicional, primava tanto pela acção entre os postes como fora destes. Com agilidade felina, contumácia, praguejou adversários e sossegou companheiros. Era rápido a pensar e agir, em voo, em mergulho ou a sair a pontapé. Ficou famoso pelo arremesso da bola à mão para o meio campo, proporcionando rápidos contra-ataques à equipa.



Para além de bom defensor de grandes penalidades, era também um bom executante deste castigo, característica que lhe permitiu evidenciar-se no desempate de alguns jogos e eliminatórias. Mas não só. Marcou mesmo um golo ao Sporting, a 23/06/76.

Durante a sua carreira, somou 63 internacionalizações pela Selecção Nacional, que capitaneou em 26 ocasiões. Pelo Benfica, conquistou 8 Campeonatos Nacionais e 5 Taças de Portugal.



Manuel Galrinho Bento nasceu dia 25 junho de 1948 na Golegã, no seio de uma família humilde. Seria o futebol a transformar a sua vida e o destino a que parecia condenado.
O espírito de sacrifício estava-lhe na massa do sangue. Quando aos 15 anos começou nas lides, ao serviço do Riachense, após longas e violentas jornas, mais de cinco quilómetros por dia de bicicleta faria, até Riachos, onde participava nos treinos, que de breu pareciam, tão tímida era a luz artificial. Passou para o Goleganense, um ano depois, formada que estava a equipa júnior da terra onde nascera.
As acrobacias na defesa das redes não causaram indiferença. O Torres Novas e o União de Tomar candidataram-se aos seus préstimos. Só que o nome Bento havia já ultrapassado as fronteiras regionais. De Lisboa, do Sporting, lançaram-lhe o repto. Durante três meses, treinou-se intensamente. Um responsável leonino mandou-o ir à Golegã, proceder à desvinculação. Possesso ficou. Essa não era maneira de tratar o clubezinho lá da terra. Mala feita, viagem de camioneta, voltava o Manel para casa, com a firme convicção de que no Sporting jamais jogaria, nem por salário superior ao do britânico Gordon Banks.

Sem que se saiba muito bem como, a noticia chegou à margem sul do Tejo. Por 15 contos apenas, corria o ano de 66, compromisso assinou pelo Barreirense, baluarte de um inesgotável viveiro de grandes promessas futebolísticas.Estávamos em 1967, quando se estreou na 1ª Divisão Nacional com apenas 19 anos, pelo Futebol Clube Barreirense, clube que viria a representar durante 5 Épocas (67-68, 68-69,69-70,70-71 e 71-72).

No FCBarreirense em 67/68 venceu a Taça Ribeiro dos Reis, em 68/69 obteve a melhor classificação de sempre do Barreirense um 4º lugar e respectivo acesso à competição europeia Taça Uefa (Taça das Feiras) já muito exposto às investidas benfiquistas, em 69/70 esteve na estreia do FCB nas competições europeias num celebre Barreirense - 2 Dinamo Zagrev - 0, disputado no Estádio Manuel de Melo completamente repleto, e nessa época ainda ganha a Baliza de Prata (Troféu do GR menos batido do Campeonato Nacional da 1ª Divisão)


Foi no Barreirense e no Estádio D. Manuel de Melo que o guarda-redes Manuel Galrinho Bento, num jogo da 1ª Divisão se estreou a marcar, num fantástico golo de baliza a baliza, num Barreirense - Académica de Coimbra, surpreendendo o então Guarda-Redes academista Melo.

Em terra de guarda-redes, guarda-redes é rei. Na esteira de Azevedo e de Carlos Gomes, logo Bento se destacou. E seria memorável, para vingança consumar, a exibição que fez em Alvalade. Na festa de homenagem a Mário Coluna, Bento teve o privilégio de substituir a Aranha Negra, o eterno Lev Yashin, num misto mundial. Desvaneceu a Luz e as juras de amor foram um ror delas. Em Agosto de 71, finalmente, preparava-se para discutir a defesa das balizas com José Henrique. No Benfica, pois então.


Bento foi suplente no primeiro ano, passando a alternar a baliza com o "Zé Gato" até 1975. Em 1976 assumia a titularidade absoluta da baliza benfiquista para apenas a largar 10 anos depois.
O seu primeiro jogo de águia ao peito foi um amigável. Em 1972, pela mão do treinador Jimmy Hagan, Bento estreou-se frente a uma selecção da Indonésia em Jacarta.
Em 1977 venceu o prémio de futebolista português do ano atribuido pelo CNID.


Decorria a época de 1982/83 e o Benfica já festejava o titulo. Nessa tarde os encarnados venceram por 1-0 com golo de Chalana. Mas o protagonista é Bento.
O guarda-redes encarnado bateu um penalty mas o guarda-redes do Sporting (Meszaros) defendeu o castigo máximo. Minutos mais tarde novo penalty, desta feita contra o Benfica. Bento redimiu-se e defendeu o remate de Jordão.
No final do jogo Bento afirmou:
"Há 10 anos que andava a tentar defender um penalty do Jordão."


Anos antes, em 1976, marcou um penalty ao Sporting em pleno estádio de Alvalade.

Outra história famosa de Bento, aconteceu noutro derby. O jogo decorreu logo a seguir a Bento ter sido suturado com 36 pontos na cabeça.
 As palavras do guarda-redes dizem tudo:
"O Manuel Fernandes roçou com os pitons da bota na minha cabeça. Levantei-me normalmente e encostei o cotovelo na cara dele, que fez o seu papel e atirou-se para o chão. No dia a seguir ao jogo fomos almoçar e sanamos tudo o que se havia passado."


A nível europeu teve como maior destaque a participação na final da taça Uefa em 1983. Acabaria derrotado pelos belgas do Anderlecht. Depois da derrota benfiquista por 1-0 na Bélgica, o empate a 1 bola na Luz não foi suficiente para erguer o troféu.
Foi suplente não utilizado na final da taça dos campeões europeus de 1988. O Benfica perdeu frente ao PSV Eindhoven no desempate por penalties.
Durante a marcação dos castigos máximos, Bento ficou por detrás da baliza onde estava Silvino, na tentativa de ajudar o seu colega.
Em vão. Silvino, que até era especialista em defender penalties, não conseguiu defender nenhum, e era mais uma final perdida.

Na selecção nacional portuguesa também deixou forte marca.

Foi internacional por 63 vezes, 26 delas como capitão. A sua estreia ocorreu no dia 16 de Outubro de 1976 em jogo realizado na cidade do Porto e que servia para a fase de apuramento para o campeonato do mundo de 1978.
Nesse jogo Portugal perdeu com a Polónia por 2-0.
Viria a ser o titular da selecção no Europeu de 1984, realizado em França, e que acabaria como sendo uma das melhores participações lusas em fases finais de grandes competições. Portugal acabaria a competição em terceiro lugar, sendo Bento considerado o melhor guarda-redes do torneio.

Viria também a fazer parte da selecção que disputou o Mundial de 1986 no México.
Mas esse ano ficaria para a história de Bento como um dos piores momentos da carreira.
Uma grave lesão num treino (lesão no perónio ), em pleno Mundial, acabaria com a carreira de Bento.

A partir de aí nunca mais foi titular. No Benfica perderia a titularidade para Silvino.


Durante o Mundial ficou para a história a polémica entre os jogadores e a federação portuguesa de futebol. Tudo por causa do desacordo quanto aos prémios de jogo. Os jogadores revoltaram-se e elegeram Bento para seu porta-voz.
A polémica que ficou conhecida como caso "Saltiilo" e a lesão de Bento logo após o primeiro jogo, foram factores decisivos para a hecatombe que viria depois, e que colminaria com duas derrotas e consequente eliminação da prova.

Ao serviço da selecção ficou famosa uma frase sua, depois da derrota portuguesa em Moscovo por 5-0, decorria o ano de 1983:
"Passámos fome em Moscovo. Não havia liquidos, nem leite, nem fruta fresca. Estivemos com muitas privações."

Eram tempos muito politizados, e horas depois, à porta da sua casa no Barreiro - zona de grande tradição e presença comunista onde os comentários à escassez na União Soviética cairam mal - foram atiradas várias peças de fruta, enquanto na sua loja no centro da cidade,  foram deixados alguns fardos de palha.
Em 1980 Portugal foi jogar à Escócia e viria a empatar 0-0. No final do jogo a critica foi unânime em reconhecer que Bento fez uma exbição do outro mundo.
Portugal só não perdeu por causa da elasticidade de Bento.
A imprensa britânica apelidou-o de "Rubber Man", ou seja, homem de borracha.
Até ao final da carreira foi suplente no clube da Luz, em alguns casos, terceiro guarda-redes.
Despediu-se da competição aos 44 anos, no final da temporada de 1991/92.

Bento com Rui Costa na gala do 103º aniversário do Benfica

No dia seguinte Manuel Bento morreu no Hospital Nossa Senhora do Rosário, no Barreiro, aparentemente devido a uma paragem cardio-respiratória.

«Tenho orgulho em dizer que ainda fui colega dele. O seu último ano de carreira foi o meu primeiro de sénior. Tenho o orgulho de o ter conhecido pessoalmente. Ficará para sempre no meu coração, pela pessoa que era e pelo que me ajudou»
«Foi a primeira vez que perdi um colega de equipa. Custa muito. Estava a começar a jogar com os meus ídolos e ele fazia parte desse lote. É a primeira vez que me acontece ter de vir a um funeral de alguém que jogou comigo.», Rui Costa








Carlos Manuel, antigo jogador do Benfica e da selecção portuguesa, recorda «um homem de trabalho e com um carácter de excepção».
«Um homem excepcional, que levou uma vida inteira a trabalhar. Estou estupefacto com a sua morte»,










''O Bento era capaz de ganhar para nós quatro ou cinco jogos'',
''Bento era um colega, um irmão, um familiar, com o qual partilhámos muitos bons momentos e outro menos bons. Foram tempos felizes no dia-a-dia e Bento era um dos protagonistas principais. Não me conformo com esta notícia'', disse à Agência Lusa Shéu Han





''O Bento vai ficar sempre na nossa memória. Era uma pessoa irreverente, de uma amizade extraordinária e tinha espírito de campeão. Será um dos grandes guarda-redes do nosso futebol, e quem sabe o melhor'', apontou António Simões.





''Não choro facilmente mas hoje não aguentei. A emoção é muito forte, Ele era um ídolo da minha infância, cresci a vê-lo jogar e quando era miúdo sonhava que um dia seria guarda-redes como ele'', disse à Agência Lusa Francisco Silva, adepto do Benfica.











A sua memória jámais será esquecida pelos companheiros, adversários ou simples apreciadores de futebol como um dos melhores Guarda-redes portugueses de todos os tempos, lembrado dentro e fora de fronteiras, como um dotado entre os postes. Um homem de borracha que elevou o seu nome, elevando o nome do Benfica.





Final Liga Europa: Manuel Bento, quando um guarda-redes foi marcar um penalty


«Essa é uma eliminatória em que, tanto na Luz como lá, as coisas me correram muitíssimo bem. Também ficou marcada pelos incidentes com o Vítor Baptista, mas esse foi um caso específico, porque o Vítor infelizmente já não andava bem. Sabíamos algumas coisas, mas só depois descobrimos a vida que ele fazia. O Vítor era uma jóia de homem, um moço espectacular. E era inegável o seu grande valor, eu sempre disse que, como ponta-de-lança, a seguir ao Eusébio era o Vítor Baptista. Só que ele começou a entrar por caminhos esquisitos, a dizer e fazer coisas sem nexo. Em alguns jogos achava que não devia jogar e não jogava mesmo. Depois decidia ir para o aeroporto descalço ou com as calças rotas e aia assim. Começou a criar uma série de problemas, para ele e para nós, que precisávamos dele. Mas nesse jogo lá aguentámos o zero e depois vieram os penalties. Eu já os marcava nos torneios em que entrávamos e Mortimore apostou em mim para marcar um dos cinco. Defendi os dois primeiros, estávamos praticamente à vontade e fui marcar o meu, com muita confiança. O meu colega do Torpedo ainda tentou arranjar confusão com o árbitro, porque entendia que o guarda-redes não podia marcar. Mas marquei mesmo!».


Curiosidades: 

Manuel Galrinho Bento, tinha um Hobby, os pombos, era um apaixonado pela Columbofilia.

Manuel Galrinho Bento, embora poucos o saibam também tinha um Amuleto, em todos os Jogos ele entrava em Campo com 1 par de Luvas suplente que deixava encostado na baliza durante o Jogo, e metia lá dentro dessas Luvas um Amuleto.
O Amuleto era um Pedaço de Corno Esquerdo de uma Vaca. 

Esse amuleto deixou-o ao seu filho, o também Guarda-Redes Rogério Bento, o qual deu seguimento também durante a sua carreira.

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